22 de mai. de 2013

Entom crês que Galiza é umha naçom?

O xefe de serviços é umha pessoa 'educada' e com 'talante'. Cada certo tempo achega-se a mim e pergunta-me de jeito incisivo: que tal estás?

É umha pergunta curiosa, sobretodo vindo dum dos responsáveis do meu encerro. Claramente el ja sabe qual há ser a resposta, pois o lógico ao estar em presom é estar 'jodido', ou seja, coaccionado a estar isolado, em maior ou menor medida, todos os días. E ademais ele é um dos responsáveis que pom Madrid para ler e escoitar todas as minhas comunicaçons, polo tanto há conhecer bem todos os meus estados de ánimo e intimidades varias.

O outro día chamou-me e fíxo-me a pergunta de sempre. Eu comentei-lhe que 'bueno', mas que estaría um pouco melhor se figessem umhas pequenas obras e recortassem um pouquinho o muro para que ao menos assi se pudessem ver umhas montanhas que seica há detrás. Nom sei se poderá ser.

14 de mai. de 2013

Aterrizagem em prisom

[Nota aclaratoria: Este "diario"  non é o orixinal. O orixinal "perdeuse" polo caminho dende Soto del Real nalgures no mes de Xaneiro. Voltou reescribilo e envialo xa dende Villabona]

Sexta-feira, 11 de Janeiro, 2013.

Esperto e olho ao meu redor. Estou numha cela de isolamento da prisom de Soto del Real. Onte cheguei da Audiência Nacional num furgom da 'guardia civil'. Dentro, dous polacos, um albano, um colombiano e mais eu. Semelhavam simpáticos:
- De onde és? Nós somos de Europa, da Europa de verdade -ri-. Nós estamos todos por extradiçom. E ti de onde és?
- De Galiza.
- E por quê estás aqui?
- Por política.
- Ah! És comunista, anarquista?.
- Algo assi, som independentista.
-Ah! És o que colhêrom o outro dia, lim-no na prensa.- diz o colombiano.

Um dos polacos tem os olhos azuis, loiro e com um sorriso constante, nom para de falar e mover-se, chisca um olho e diz-me:
 - A ver quando fazedes voar o edifício este eh!
Ao seu lado esquerdo está o albano, um homem mais reservado, mas com um aura de ironia nos olhos:
 -A ver moreno, que papéis levas ai?-. Ensina e sinala o outro e ri.
 - Fuga dum cárcere em Bélgica e vandalismo destrutor, que é vandalismo destrutor?-.Ensina e sinala o papel, estranhado polo termo
 - Hóstia, tés polo menos quinze alcumes, eh?-. Responde com um meio sorriso e umha mirada fugaz.- E ti, colombiano, por que estás?.
O colombiano tem outro aspecto, mais como de resignaçom, mais roído polos anos. - A mim buscam-me por um atraco  numha *joalharia no que nom participei .
- É a primeira vez que conheço alguém acusado de resistência galega, eu conhecim gente da resistência basca .-Nós todos estamos aqui por extradiçom, a mim querem-me mandar a Alemanha quando tenho aqui mulher e filhos.
 - Eu nom me lembro quase do delito polo que me colheram, levo dez anos fora-. Este tem um aspecto menos curtido, mais invadido polo desconcerto. - Levam-nos como se fossemos mercadoria.
- O porco da minha nai está melhor que aqui-. Rim.
- Mas ti que és, das montanhas?.
- Nom, som dumha aldeia, eu estava no monte quando uns encarapuçados se botárom em riba de mim.

Superheroi


"Um cura de la óstia"


Personagems I

Umha mesma ferida


Recevo a carta dum amigo da minha aldeia. Ele está emigrado em Francia. É um dos 80.000 jovens que abandonou o país desde 2008. Diz-me ele: "ti preso longe da terra, eu emigrado, os dous temos um pequeno ponto em comum: compartimos essa espera, de passar a porta da casa, da lareira..."
Prosegue, dando-me folgos: "eu fecho os olhos e tento imaginar-me que caminho polo monte do Picom, que meto os pés no rio e que está tam frio coma sempre, ou a erva na carvalheira do Constante, porque a imaginaçom é mui grande e ninguém nola pode proibir".    <------ Iso de nola pode proibir penso que está mal escrito, non entendo moi ben o orixinal.
Outro amigo, antigo companheiro de trabalho, aficando na Terra ele, envia-me junto coas suas saudaçons umha esperpéntica cópia da sua petiçom de admisom num programa de bacharelato. Apresentada esta, fora de praço, numha folha de quaderno escrita a mam e cheia de gralhas. Diz, literalmente: "cumpridos os 25 anos de idade, provinte dumha familia totalmente desestruturada, cum trabalho sem absolutamente nengumha posibilidade de futuro nem realizaçom pessoal, atopando-me num estado de desesperaçom e no que os expertos calificam de "exclusom social" solicito..."
Ambos dirigem-se a mim, num gesto de solidariedade e apoio mutuo, mas eu penso que falam também para si, reflexivamente, buscando em si mesmos um caminho e umha resposta.
Como este pequeno artigo, essas cartas contenhem dentro de si muitas perguntas e o mesmo berro-ouveio de Irmandade e Força. Pois emigrado, precarizado e preso, os tres compartimos a mesma arela: vivir dignos e livres na nossa Terra.

Ao caer a tarde
a águia sobrevoa este ceu
e deixa tras de si umha ferida

é a travês dela que nos miramos aos olhos
as irmás
e soam umhas guitarras eléctricas
                               coma lóstregos:
"Que chegue a hora da furia,
a ira pode ser poder
Sabias que podes utilizá-lo?"
                    (The Clash)

"Quando me perguntam pola minha identidade nas esquinas eu abro e mostro-lhes a minha ferida"
Higri Izgqren

Tránsito


Os homes caminhan arredor do pátio, ás vezes de dous em dous, outras sós. Numha esquina, um grupo de conversa,
noutra um home senta só, agardando. Estám de tránsito, também chamado "cunda". "Umha viage como um êxodo
cara  o nengures".

O tempo semelha parado. Num recuncho, colado num cristal, a indicaçom, por dias, das distintas rutas carcerárias: cara
o norte, cara o sul ou cara o leste. Ás vezes, alguém se para a curiosear ou comentar.

Homes de todas as procedências, histórias e idades agardam durante dias polo seu traslado, e caminhan em círculo baixo
o sol com as suas peles gastadas. O seu destino está decidido polo poder estatal, em cada prisom un futuro onde
comezará outra espera distinta.

Nesta estaçom nom há autocarros, só há homes. Postos em fileira, estes som classificados para partirem quando chega
um autocarro da Guardia Civil. Os homes cargam nos maleteiros as suas enormes bolsas com todo o que posuem, e
depois introduzem-se, de dous em dous, numha cela de 2 x 2 metros, metálica, totalmente fechada (apenas um pequeno
buraco sem visibilidade polo que entra umha pouca luz).

O azar junta-os nessas viages de até 6 horas seguidas.
"-Sabes? A verdade é que se nom se conhece isto nom se pode comprender o mundo no que vivemos. Estes som os
sumidoiros do estado e esta a gente que provem dos sumidoiros do mercado".

O Polaco


"O cárcere é um negócio e todos os negócios provenhem do crime" diz o polaco.
No seu país o cárcere é ainda pior que aquí, saen ao pátio 1 hora ao día e estám seis ou sete num quarto. Ele tivo um
problema há muitos anos com uns mafiosos do seu país que ameaçavam a sua familia,e , tras 23 anos fugido vivendo e trabalhando
 sem papeis com outra identidade, um dia indo a mercar o pam, quando o param pola rua os polícias, trabuca-se ao ensinar o seu pasaporte
e ensina o que nom devia. Total, que o detenhem e pidem-lhe cadea perpétua em Polonia.

Na engranagem carcelária colhem muitas histórias e personagems, gente que sabe que o dinheiro nom é legal nem ilegal,
que o dinheiro move o mundo,e que este procede da guerra, da conquista, da especulaçom, do crime.Que há trabalhos legais
e trabalhos ilegais.

Sabe que nos EEUU os cárceres som privados, que "quem fai a lei fai a trampa", que "todo funcionário tem o seu preço", que
os verdadeiramente poderosos nunca entram no cárcere, que a repressom é também un negócio, que "todos somos peças desse
jogo".Sabe-o o ionki, o preso "político", o atracador e o ladrom.

Do que se trata é de libertar-nos da engranagem.
Viva Galiza Ceive!        Abaixo os muros das prisoms!

A TV é a mitade da condena


"A TV é a mitade da condena, fai-te com umha"

Fôrom as últimas palavras do Chefe de Serviço da prisom de Soto del Real depois de deixar-me na cela de ilosamento.
Afortunadamente levava comigo umha rádio de man quando, caminhando polo monte, se me botárom enriba mais de dez
encarapuzados que durante mais de 2 horas se adicárom a denigrar-me, golpear-me e torturar-me psicologicamente.

Umha folha en branco e calor humano dos outros presos é o que che fai seguir adiante quando chegas aqui, depois
duns dias nas mans da polícia, incomunicado, onde nom tes absolutamente nada, e como muito podes escrever algo se
as paredes som amarelas com o arámio da "chupa". As primeiras saídas ao pátio, caminhar dum lado a outro conversando
com outra pessoa com a sua história própia. Histórias e palavras que som umha boa droga para a supervivência.

Entom das-te conta do contraste: aqui o tempo é infinito, quase um inimigo, nom há presa porque tampouco che deixam
ir a nengures, claro (21 horas na cela e enfrente um muro). Na rúa é ao contrário: o tempo é ouro, sempre há que
mover-se, ir a algures, mas muitas vezes com presa, sem sentido. O trabalho, o tráfego, a discoteca, o facebook,
as obrigas, "ser alguém!, o INEM, os "trapis", os videojogos, o espectáculo, mudanças, o google no que todo aparece...

Aqui nom temos nada, aparte do sustento mais básico (como os porcos no cortelho) mas temos ainda a nossa mente. Por
isso nos ofrecen pastilhas ou nos recomendan mercar unha televisom.
                          " A melhor arma do opressor é a mente do oprimido"

De Quistiláns a Soto del Real


-Menudo câmbio!.- Di-me o velho atracador madrilenho.- Antes no monte coas galinhas, e agora aqui metido!

Pois sim, eu venho da Galiza, dumha aldeia ou do que ainda fica dela, onde ainda mantém-se umha certa harmonia coa terra e a secular cultura galega mantém-se ainda viva, mas agonizante. E nom falo de "cultura" como falam os políticos, falo dum jeito de vida, dumha existência que se funde co entorno; e nom falo de "paisagem" como falam nas guias turísticas da Junta, falo de aproveitar o monte e cuida-lo, e disfrutar do rio e do horizonte; e nom falo de "galego da CRTVG", falo de cagar-se em Dios, mas também do "ghato" e da "ghadanha"; tampouco falo de "civismo", falo de dizer-lhe "ola" ao vizinho e comentar-lhe como vai a tarde e do cheio que leva o carretilho.

E nom, nom era todo idílico, estava (está) ainda muito por conservar e trocar. Há muitas costumes perdidas (como os contos a carom do lume) e outras impostas (como o automóvel, a televisom, ou o feisbuk), há ofícios perdidos e vidas de escravitude laboral, há casas abandoadas e chalés de "ricos"; há sabiduria e valores que se perdem, e muito machismo e medo paralisador que se conserva. Há cada vez mais eucaliptos, fala-se-lhe castelám ás crianças, e já case ninguém trabalha as terras, a história esquece-se e a identidade morre.

Um dia a aldeia encheu-se de polícias encarapuçados, e encheu-se também de moç@s que lhes berravam e lhes tiravam pedras, os meus irmáns.

Agora estou aqui, metido neste "búnker" a centos de kilómetros da terra, no que apenas vejo um muro, e um carcereiro pregunta-me se saim na Tv.

"...Nom nos entendem, nom."